13 de abril de 2014

Multidão

Somos todos
E tão poucos
E dentro de nós
Há essa chama
Que queima o gelo
Que há tanto tempo
Congelava
O coração

E sendo todos
E tão poucos
Não havia
Nenhuma vontade
De levantar até a borda
De puxar o ar
No qual voava
Toda a razão

Sobre a decepção


Ela me encontrou e perguntou:

- Como vai a vida?

Respondi:

- Vai indo. E já foi tão longe que jamais voltou.

2 de abril de 2014

Quebra-Cabeça

Estranho como ele sempre soube. Enquanto todas as pessoas passavam por ele, como se nunca tivessem percebido a sua presença, ele sempre soube. Sentia a diferença, por debaixo da pele, se espalhando pelos seus membros. Era impossível não perceber que alguma coisa sempre estivera errada, que seu corpo não tinha sido feito num molde destinado a encaixar com o resto. Ele era uma peça sobressalente, uma peça extra.

Não conhecia seu objetivo. Na verdade, nem sabia se tinha um. Queria poder tocar os outros e mostrar-lhes as cores que ele via, mas ele não passava de uma sombra se esgueirando pela calçada quando a luz do poste, de relance, lhe atingia. Os outros, tão acostumados aos tons de cinza que viam, não se davam ao trabalho de notar aquele rastro colorido que ele deixava quando se recolhia para descansar.

Vivia cansado daquele mundo. Vivia cansado daquelas pessoas automáticas que seguiam o mesmo traçado de outras pessoas, como um mapa que deveria leva-las a algum lugar desconhecido. Engraçado como ninguém nunca tinha se perguntado onde isso ficaria. Talvez não quisessem admitir que sabiam que estavam andando em círculos. O mundo era uma bola, afinal.

Não havia mesmo o que fazer, nem olhos capazes de enxergar o que ele via. Ouvidos, talvez não houvesse mais, pois de vez em quando gritava, cortando o silêncio da noite, mas nunca tinha escutado nenhuma resposta além de seu próprio eco. Este reverberava pelas paredes, feitas para bloquear qualquer pensamento intruso.

Mas foi enquanto andava pela chuva daquele inverno, já acostumado com o frio que sempre fazia lá fora, que a tinha escutado cantar. Não conhecia melodia, não sabia que tal coisa poderia existir em meio aos humanos. Pensou que estava morto, afinal, e tinha se libertado de ser um ser à parte, alheio a toda e qualquer falta de manifestação que constantemente o cercava. Porém aquela voz o alcançava, mesmo que os outros não pudessem ouvir.

Ela se aproximava, ele tinha parado para esperar. Deixou uma lágrima escorrer, de cor azul, misturada com a chuva. Alguma coisa dentro de si acordou, começou a bater novamente. Tinha esquecido dessa sensação. Tinha esquecido de tanta coisa. E quando ela tocou-lhe a face, sorrindo, ele não pôde deixar de falar com aquela voz que era sua, mas que também nunca tinha escutado antes:

- Como você me achou?

E ela respondeu, enquanto também brilhava:

- Segui as suas cores e as transformei em melodia. Você pode me escutar?

E então ele percebeu que não era mais uma peça extra. Na verdade, ele era parte de outra coisa maior, outra coisa melhor. Parte de uma máquina invisível para quem não se encaixava nela.

A única certeza que sempre tivera era a da sua própria companhia, enquanto as pessoas eventualmente iam e vinham. Tentava fazer com que o vissem, mas agora isso de nada importava. Ele tinha achado algo do qual fazia parte.

Ele não estava mais sozinho.

27 de março de 2014

Diferença


Dança
O mundo
Destranca
A porta
Cai
Um dilúvio
Mas sai
Em resposta

O resto
Tão triste
Num gesto
Entoa
"Sem raiz
Há o risco
E por um triz
Destoa"



A imagem veio deste link, onde tem uma frase que eu acho que tem muito a ver com o meu poema e gostaria que vocês também refletissem: "A raiz não tá no chão, a raiz tá em você". Então não percam nenhuma oportunidade de destrancar a porta, destoar e colorir esse mundo que anda tão preto-e-branco! :)

22 de março de 2014

Uma prosa sobre confiança


Ontem me vi discutindo um assunto delicado: o quanto confiamos uns nos outros? Não quantificando a confiança que temos em nossa família, amigos ou colegas de turma/trabalho, mas o quanto confiamos uns nos outros como pessoas.

Aquele cara atrás de você na fila do supermercado, você confia nele? E o motorista do ônibus que está te levando até o seu destino? E quanto a pessoa que está sentada ao seu lado? Sabe aquele conselho que te dão para não confiar em estranhos?

Me peguei pensando sobre o que as pessoas definem como “estranho”. Aquele pai de família que sai para trabalhar as sete horas da manhã e puxa conversa com você na hora do almoço no restaurante porque gosta de conversar é um “estranho”? Um homem que vê uma mulher – ou vice-versa – em uma praça, se interessa e resolve pedir o telefone, é um “estranho”? Você é um "estranho"? Quer dizer, nós temos que parar de interagir uns com os outros, criar uma armadura para nos proteger de qualquer pessoa só porque temos um pré-conceito de que ela irá nos fazer algum mal?

Pense bem, todo mundo é estranho para todo mundo até o momento em que você decide fazer a pessoa deixar de ser.

Há os limites do bom senso, é claro, eu sei disso, mas essa predisposição que todos têm de esperar o mal no próximo é algo que me incomoda bastante. Conversei com minha amiga Raíssa sobre isso.

- Não consigo me ver tão melhor do que as outras pessoas a ponto de ter de ser privada delas, por elas serem “perigosas em potencial”. – ela me disse.

- É triste você só imaginar outra pessoa como a pior possibilidade humana, não é? Um assassino. Um estuprador. Um ladrão. – respondi.

Nós sempre temos ótimas conversas e eu gosto da maneira como Raíssa vê as coisas. Percebemos que esse assunto daria uma conversa interessante.

- Sobre isso, eu só poderia dizer uma coisa: nunca perdi nada (ruim) por confiar nas pessoas. Mas já vi muita gente perder por não confiar. – ela continuou.

- Tá vendo só? Se eu confiei em alguém e fui magoada, o erro foi da outra pessoa em não ter caráter e não meu por ter acreditado no lado bom dela, sabe?

- Exatamente. A famosa mania de sempre culpar a vítima. Como se o fato de confiar fosse a coisa errada. Fatalidades acontecem. As pessoas acham que o erro está em confiar quando o erro está em quebrar a confiança de alguém.

- Isso mesmo!

Concordamos no mesmo ponto de vista: o mais sábio não é nos fechar diante dos outros pelo simples fato de que são “estranhos”. Ninguém nasce conhecendo todos a sua volta e ninguém morre conhecendo todos completamente. O ser humano, por si só, é uma criatura complexa e capaz de muitas coisas.

Ironicamente, esperar essa mesma capacidade do outro não é uma delas.

19 de março de 2014

Inspiração


Aquela menina tinha um sonho. Tenho certeza que tinha, pois aquele olhar em constante fuga de outros olhares não conseguia me enganar. Desconfio que também sabia aonde ir, mas talvez essa aparente dúvida na ponta dos seus pés denunciasse o contrário. Naquele papel teria anotado o nome de alguém? Seus lábios cerrados nunca deixariam essa resposta escapar.

Me pergunto o que faltava então?

Num sussurro carregado pelo vento, pude ouvir com exatidão: 

"A única coisa que me falta é inspiração."

18 de março de 2014

Maratona III: 10 Things I Hate About You


O filme, eu sei que muita gente já assistiu, mas não sei se tanta gente assim já resolveu dar uma conferida na série baseada na mesma história e homônima ao filme!

A história que todo mundo conhece é a mesma que rola no seriado: Duas irmãs começando o ano em uma nova escola e tendo que lidar com as mudanças que isso traz para a vida das duas. Uma delas, Bianca Stratford, se preocupa apenas em se aproximar da garota mais popular do colégio, Chastity, e ser líder de torcida, enquanto a outra, Kat Stratford, pensa constantemente em assuntos mais sérios, como mudar o planeta, elevar o feminismo e conseguir boas notas para ir à uma boa faculdade. Além disso, elas têm que lidar com o pai, Walter Stratford, super-protetor e com os novos romances que vão surgindo ao longo dos episódios.

Quem não se derrete com o charmoso Patrick, interpretado pelo lindíssimo Ethan Peck ou não se admira com a beleza da Lindsey Shaw na pele da Kat? Eu também adoro o personagem do Cameron, interpretado pelo Nicholas Braun, que é secretamente apaixonado pela Bianca, interpretada pela Meaghan Jette Martin.

A série começa devagar e sem muita coisa a oferecer. Pouco humor, muito drama de mulherzinha e sem qualquer ponto relevante. Com o passar dos episódios, você, de repente, se apega aos personagens e vai começando a querer saber o que ainda vai acontecer no dia-a-dia deles a cada episódio. Pena que, quando a série finalmente se encontrou e conseguiu certa estabilidade, ela foi cancelada e só podemos contar com os 20 episódios de sua única temporada.

10 Things I Hate About You é uma série leve e pequena, ideal para passar o tempinho vago de um fim de semana em casa, por exemplo. Fica a dica! ;)